Há momentos na política em que o silêncio fala mais alto do que o discurso e a difamação vale mais do que a propaganda. Quando todos parecem atacar o mesmo homem… talvez o objectivo não seja destruí-lo, mas torná-lo inevitável.
Por Mwata Santos
Nada me tira da cabeça que essa “encenação” toda à volta do Higino Carneiro não passa de Campanha Política Reversa.
O jogo é antigo: primeiro, ostraciza-se o político, mancha-se a sua imagem, lança-se a dúvida. Depois, deixa-se o tempo agir – e o “perseguido” passa a ser visto como vítima do sistema, símbolo de coragem e resistência. O inimigo de ontem transforma-se, subitamente, no “salvador” de amanhã.
É o manual clássico da campanha reversa: transformar a desconfiança em empatia, o ataque em promoção e a narrativa da exclusão em ferramenta de conquista popular. O político deixa de ser o acusado e passa a ser o injustiçado – o homem que “ousou enfrentar o poder” e, por isso, é “temido”. E, dessa forma, o “regime” perpetua-se no poder, enquanto o povo, mero espectador, pensa estar diante de uma nova realidade, quando, no fundo, é a mesma série que se repete – para pior… ou para pior.
A nota de imprensa de Higino Carneiro, publicada a 25 de Setembro, não é apenas uma defesa – é o primeiro capítulo dessa virada de guião. E, a julgar pela forma como os ataques se multiplicam, o palco está montado: há quem aposte na velha máxima de que “em política, o perseguido é quem mais facilmente conquista o povo”.
Num país cansado de promessas e de rostos repetidos, a imagem do “homem de coragem”, “atacado porque incomoda”, pode ser o combustível mais poderoso para um novo ciclo de ambição política.
Se é espontâneo ou orquestrado, o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: em Angola, as campanhas já não se fazem apenas com cartazes e comícios – fazem-se com escândalos, insinuações e silêncios calculados.
O eleitor, por sua vez, assiste a tudo sem saber se está diante de um mártir… ou de um estratega brilhante. É preciso que estejamos atentos para 2017 não se repetir diante dos nossos olhos.
Precisamos repensar Angola. É urgente!